O amor terá cor?
17 de Junho de 2020Em 1958, nos Estados Unidos da América, Mildred Loving e o seu marido Richard Loving viam a sua casa invadida pela polícia e eram condenados a 1 ano de prisão. O crime? Casaram fora da sua respectiva cor. Há apenas 53 anos, o casamento interracial ainda era considerado ilegal em alguns estados levando este casal a uma batalha judicial em busca do direito a partilhar uma vida em conjunto. A 12 de Junho de 1967, o Supremo Tribunal de Justiça, deliberou a favor do casal, derrubando todas as leis anti-miscigenação e pondo fim a todas as restrições legais baseadas na raça ao casamento nos Estados Unidos. Este dia é conhecido naquele país como Loving Day ou Dia Amoroso.
Esta história inspira-nos a lutar pelo direito a amar, independemente de raça, etnia, género ou religião. Decidimos procurar casais que se tenham encontrado no Felizes.pt e tenham enfrentado, de alguma forma, desafios étnico-raciais. Ficámos muito felizes ao saber que a maioria nunca foi questionada ou sofreu qualquer tipo de consequência negativa pela escolha do seu parceiro. Achávamos que as mentalidades estavam a mudar quando falámos com Danielle e Jorge e nos apercebemos que as dificuldades ainda podem surgir com os filhos.
“Um dia quando minha filha de 5 anos saiu da creche estava chateada, a princípio quando perguntei ela não disse nada, mas eu sabia que se passava algo (...), ela disse que uma coleguinha falou que o cabelo dela era feio por ser cacheado, que também não gostava da cor dela e que minha filha tinha cor de côcô”, recorda Danielle.
Como é lidar com uma situação destas, enquanto mãe?
“Apesar de ter ficado irritada com a situação não fiz nada, só levei minha filha à frente do espelho, e perguntei se ela se sentia feia, e ela respondeu que não. Então, eu disse que ela é linda, que a cor dela é linda e o cabelo dela é lindo e que a coleguinha só disse essas coisas porque estava com inveja dela.”
O fez o Jorge quando soube?
“Ele sentou-se com ela e reforçou tudo o que eu já tinha dito, e juntos nós explicamos às meninas que às vezes isso acontece, que não podemos e nem devemos agradar a todos. Que devem ignorar essas coisas, nunca responder e nem agir com violência, simplesmente ignorar, virar as costas e deixar essas pessoas falando sozinhas porque não são dignas de nossa atenção.
Viram alguma mudança nas vossas filhas, desde esta experiência?
“Elas entenderam e agora, toda vez que um coleguinha tenta chateá-las elas nem se importam. E o melhor é que recentemente a minha filha de 5 anos me disse que gosta da cor dela porque ela é castanha como o tronco de uma árvore. E essa assimilação é bom, já que tanto ela quanto a de 8 anos adoram tudo o que envolve natureza.”
Como se vêem a lidar com situações destas no futuro?
“Se um dia acontecer connosco estando juntos não daremos importância porque sabemos que o amor vence qualquer barreira e muitas vezes o silêncio é a melhor resposta. Normalmente, não nos passamos e perdemos tempo com quem não merece e não será diferente quando isso acontecer. Nos revoltamos, sim mas não podemos pagar mal com o mal, porque violência só gera violência.”
Não diríamos melhor. Obrigado Danielle e Jorge por partilharem a vossa experiência e nos mostrarem que o amor é de todas as cores.