Férias com filhos de outros relacionamentos - 6 factores a ter em conta

Férias com filhos de outros relacionamentos - 6 factores a ter em conta

16 de Agosto de 2020

A vida é mesmo assim: apaixonamo-nos, temos filhos, a relação não resulta, voltamos a apaixonar-nos por outra pessoa e, por vezes, essa pessoa já tem filhos de outras relações. Não é de admirar que as relações e os núcleos familiares sejam cada vez mais complexos e, se não forem geridos com cuidado, podem dar azo a confusões e algumas angústias, mesmo numa altura que se espera tão positiva como costuma ser a das férias. Nestas férias de verão, queremos ajudar quem já tem filhos ou está numa relação com alguém que os tem. Iniciou uma relação e está a considerar apresentá-la ao(s) seu(s) filho(s) durante as férias? Saiba que pode não ser a altura ideal… E se a criança não quiser ir de férias com o outro progenitor? Reveja quais os seis aspectos que deve ter em conta durante o período de férias com seus filhos ou do seu parceiro que sejam de outros relacionamentos:

1. O bem-estar das crianças em primeiro lugar

O primeiro passo para gerir melhor a sua situação familiar, quer no período de férias ou qualquer outro, será sempre pôr os interesses e bem-estar das crianças em primeiro lugar. Isto significa deixar de lado quaisquer assuntos da relação anterior que não estejam bem resolvidos com o pai ou mãe dos seus filhos. Tentar usar os filhos como arma para uma guerra com o outro progenitor acabará por prejudicar o processo de férias, uma possível relação cordial com o seu/ sua ex e, mais importante que tudo, o bem-estar psicológico e emocional do seu filho. Isso significa não mandar recados pelos filhos quando quando forem de férias com o outro progenitor, não perguntar detalhes sobre a vida do outro e não dizer mal do outro, nem da sua família. Adicionalmente, existem comportamentos que poderão parecer inofensivos mas que deverá ter em atenção se os faz para agradar à criança ou se os faz para atacar o seu ou a sua ex. Por exemplo, ser demasiado permissivo com a criança ou tentar “comprá-la”. Deixar fazer tudo o que querem, dar-lhes todos os brinquedos ou aquelas férias na Disneyland que sempre pediram, pode deixá-los felizes a curto prazo mas terá repercussões a longo prazo pela falta de estrutura e firmeza de uma figura disciplinadora. Evite estes comportamentos permissivos para se tornar o progenitor preferido mas faça-o, sim, para recompensar a criança quando esta merece.

2. Aprender a negociar com o outro progenitor

E porque os filhos nunca deverão servir de “pombos-correio” entre os pais, estes terão de aprender a comunicar com a outra parte para chegarem a um entendimento sobre como gerir as férias dos filhos. Decisões unilaterais estão fora de questão. É natural que após uma separação, a vontade seja focar-se apenas em si e tomar decisões sem ter que dar justificações a ninguém. No entanto, quando se tem filhos em conjunto com alguém, manterá esse elo com a pessoa para sempre. O melhor será mesmo ultrapassar os dissabores e manter uma boa relação com o antigo parceiro para facilitar a vida dos filhos que têm em conjunto. Na impossibilidade de manter uma relação de amizade, promova uma comunicação cordial. O intuito não é pedir permissão para cada decisão mas terá de ter em conta os planos do seu parceiro anterior para facilitar o processo de planeamento de férias dos filhos em comum. É normal que ao longo dos anos tenham criado o hábito de tirar férias na mesma altura e é possível ter de haver alguma adaptação para que estas não coincidam e possam ficar com as crianças à vez. É por isso, que a negociação se torna tão importante na fase das férias. Tente ter empatia pela situação do outro e proponha alternativas que beneficiem ambos. Por exemplo, se ambos quiserem tirar a primeira quinzena de agosto, proponha um tirar a primeira e o outro a segunda, alternando anualmente. Lembre-se que a logística das viagens pode tornar-se complicada e imprevistos acontecem por isso, evite marcação de férias muito próxima das férias que os seus filhos possam ter com o outro progenitor.

3. Duração do período de férias

Não existe uma fórmula universal para o tempo que as crianças devem passar com cada lado da família porque tudo depende da situação específica de cada. Nos casos dos filhos mais pequenos, é natural que os pais optem por períodos iguais de férias com um e outro mas, com filhos mais velhos, estes já terão algo a dizer sobre o assunto. Isto também dependerá da relação e presença de cada progenitor no dia-a-dia da criança. Quando uma separação se dá e uma das partes muda de cidade ou de país, é compreensível que o período de férias fique reservado para o progenitor menos presente durante o ano. Esse período férias será compensador para estimular o vínculo afectivo entre os filhos e o pai ou mãe ao qual não costumam ter acesso.
Idealmente, os períodos de férias devem ser curtos para que não se passe demasiado tempo de seguida sem um dos progenitores e as crianças não tenham a sensação de abandono de uma das partes. É aqui que podem entrar as birras de “quero a mãe” ou “quero o pai” e é mais fácil colmatar essa necessidade da criança se esta passar uma semana em vez de um mês de seguida com cada um.

4. Presença dos namorados

É verão e marcou uma viagem com os seus filhos que inclui praia, piscina e muita diversão. As expectativas são de que todos estejam de bom humor e, por isso, decide aproveitar as férias para apresentar e trazer o seu novo parceiro convosco - pode não ser a escolha mais ajustada. Ao fazê-lo está a forçar os seus filhos a um período de tempo com um(a) desconhecido/a. As crianças e o seu parceiro ainda não se conhecem nem tiveram tempo para criar laços afectivos sólidos para estabelecer qualquer tipo de relação e isso pode tornar-se um problema. O período de férias pode ser uma altura em que as crianças têm a atenção exclusiva do pai ou da mãe e ao ter de partilhá-la com uma terceira pessoa pode trazer algum conflito. Tente ir introduzindo a nova relação aos poucos antes de passarem férias todos juntos, logo no início. Também não será um processo fácil para o seu novo companheiro, por isso, reserve as férias românticas para uma altura em que esteja sem as crianças e proporcione outros momentos para que a pessoa crie uma relação com os seus filhos.

5. Quando as crianças não querem ir de férias com um dos progenitores

O essencial nesta situação será compreender verdadeiramente o que está por detrás deste comportamento. Isto também poderá depender da idade dos filhos porque, quando entram na adolescência é normal quererem distanciar-se dos pais. No entanto, quando são pequenos requerem contacto constante com ambos os progenitores. Se a resistência estiver relacionada com diferenças entre as condições em casa do pai e da mãe, tente explicar-lhe que é normal haver diferenças e incentive-os a ir, mesmo que possa ser uma experiência diferente da que estão acostumados. Se verificar que se trata de uma questão de negligência ou sensação de abandono por parte do outro progenitor, terão de dialogar para resolver os problemas. É importante que se resolvam quaisquer problemas que levem ao afastamento dos filhos de uma das partes. No momento, poderão não querer ir mas mais tarde agradecerão ter incentivado a relação com o pai ou a mãe.

6. Saudades dos filhos

O seu período de férias com os filhos terminou e está na hora de deixá-los ir com o outro progenitor. Nem sempre é fácil e as saudades podem apertar mas lembre-se de que férias sem os filhos é uma oportunidade para fazer tudo aquilo que tem deixado para segundo plano. Tire tempo para si e para reflectir no seu papel de pai ou de mãe e sinta orgulho no esforço que faz para que os seus filhos tenham contacto com o outro progenitor. Faça todas as coisas que sempre quis fazer mas que não podia por ter de dedicar o tempo aos seus filhos. Pode até não fazer nada e aproveitar apenas para pôr as séries em dia. Mas aproveite e lembre-se que os seus filhos estão bem e que voltarão muito em breve.



Não devemos assumir que as férias são uma altura fácil e relaxante. Muitas vezes quando nos é retirado o trabalho e outras distrações do dia a dia confrontamo-nos com alguma “desarrumação” familiar que precisa de ser resolvida. Aproveite o período de férias para compreender as necessidades dos seus filhos, estabelecer estratégias de comunicação mais eficazes com o pai ou mãe deles, para que juntos possam refazer os planos em função do que é melhor para as crianças. Evite conflitos desnecessários - os filhos agradecem.

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